O que aprendi fotografando o lixo!
3Convidado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental para fazer fotos do descarte irregular dos resíduos sólidos em São Paulo, César Cinato teve diversos insights sobre a problemática do lixo. Da angústia à tomada de consciência, Cinato deixa para nós seu sincero relato.
Meu nome é César Cinato, fotógrafo desde os 17 anos e atuando como profissional há 6 anos.
Normalmente, tenho um olhar mais criterioso, mais apurado no meu dia a dia. Por conta da profissão, estou sempre prestando mais atenção a tudo que está em minha volta. Seja qual for o assunto. A gente aprende a olhar de forma mais detalhada, com mais amplitude, pois está sempre buscando uma oportunidade para uma boa imagem, uma boa foto e com isso, contar uma boa história.
Em 2015, fui convidado pela ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo), através da Câmara Técnica de Resíduos Sólidos, ligadas à CETESB, para fazer fotos com a temática voltada para o descarte irregular dos resíduos sólidos em pontos viciados pela cidade de São Paulo. Na ocasião, a coleção escolhida de 35 imagens foi exposta no Conjunto Nacional, na Av. Paulista, São Paulo, por 15 dias em comemoração ao Dia Interamericano de Limpeza e Cidadania, também conhecido como DIADESOL das Américas (da expressão de origem espanhola Dia de Los Desechos Sólidos).
Mais recentemente, as imagens ilustraram o livro “Saneamento Ambiental e Saúde do Catador de Material Reciclável” de Roseane Maria Garcia Lopes de Souza (O PDF do livro está disponível no site da ABES).
As fotos foram idealizadas com objetivo de desenvolver atividades que despertem a consciência da população sobre as questões relativas aos resíduos sólidos e seus catadores.
Missão dada e câmera nas mãos, comecei mapeando alguns pontos que já conhecia de passagem e outros que imaginava poder encontrar esse tipo de resíduo.
Foi fácil, pois a nossa cidade é recheada de pontos viciados de descarte de resíduos sólidos. Comecei pelas feiras livres nas ruas do bairro. O final do expediente é irritantemente um caos. Nessas horas, você encontra tudo o que é resíduo literalmente jogado ao chão. Caixas, papel, papelão, sacos plásticos, restos de alimentos, madeiras, enfim, um verdadeiro lixão a céu aberto. Procurei concentrar o foco no descarte dos sólidos recicláveis, mas não havia qualquer separação.
Andando pelas ruas, encontrei diversos pontos de descartes. Muitos deles ditos “viciados”, onde a prefeitura faz a limpeza e pouco tempo depois, já estão lotados de bagulhos espalhados por ruas e calçadas.
Sofás, cadeiras, caixas de plástico, de madeira, malas, pneus, restos de obras e construções, enfim, um verdadeiro descaso com o meio em que vivemos. E o mais interessante e impressionante; visitei apenas bairros nobres da cidade.
Das ruas, fui a um grande centro de distribuição e vendas de alimentos na zona oeste da cidade. O CEASA.
Já havia visitado o CEASA em diversas ocasiões, inclusive para fotografar. Mas por conta de objetivos diferentes, o foco e a visão também eram bem diferentes.
O que encontrei lá, me deixou perplexo!
O principal e maior centro de distribuição de alimentos do país, não possui qualquer logística de separação de lixo, seja ele orgânico ou sólido. Não existem lixeiras ou recipientes adequados à separação e posterior reciclagem. Tudo é abandonado ao lado de “caçambas” de lixo, que na ocasião, transbordavam e se espalhavam pelo chão ao seu entorno, inclusive dentro dos pavilhões.
Pude constatar muitos “catadores” no local, sem ter qualquer instrução ou instrumento para uma correta separação de resíduos.
A angústia tomou conta de mim naquele momento. Por alguns minutos, sentei e fiquei revendo as imagens que havia acabado de fazer, pensando: “O que estamos fazendo com o lugar onde vivemos? O que será da nossa cidade em alguns anos se isso não mudar?” É triste. É preocupante e é real.
Percebi naquele momento, que a minha consciência de reciclagem e sustentabilidade era pequena diante das imagens feitas até então. Contudo, algo dentro de mim mudaria depois daquele trabalho.
O próximo passo, era visitar algumas cooperativas de catadores de resíduos recicláveis. Câmera na mão, lá fui eu.
Foi então que vi e senti de perto a vida dura desses profissionais que permanecem praticamente incógnitos e, na maioria das vezes, sem incentivo ou apoio de governos e iniciativa privada.
“O que estamos fazendo com o lugar onde vivemos?” O que será da nossa cidade em alguns anos? É triste, preocupante e real
Não existem políticas públicas, nem incentivo da sociedade civil. Não há mecanismos, informações e estruturas adequadas para a maioria desses profissionais, que, certamente, são os maiores responsáveis pela reciclagem de resíduos sólidos na cidade, uma vez que eles separam os resíduos possíveis de serem reciclados dos que são descartados.
Na sua maioria, são moradores de comunidades na periferia, moradores de rua e carroceiros, enfim, pessoas muitas vezes marginalizadas pelos cidadãos, que, geralmente, não possuem consciência de separação de resíduos de forma adequada.
Felizmente, com grande esforço feito pela ABES, algumas dessas comunidades e seus profissionais catadores, estão tendo o apoio necessário para que essa profissão tão importante, seja regulamentada e, principalmente, reconhecida.
Depois desse trabalho, aprendi a importância da seleção do lixo, começando pela nossa casa.
Selecionar corretamente os resíduos, não só ajuda na limpeza de nossa cidade, mas auxilia o trabalho de seleção dos catadores, que podem agilizar seu trabalho e com isso obter melhores resultados para eles e para o planeta.
Hoje, sou muito mais atento às questões relacionadas à separação correta do lixo, e sempre que posso, procuro ressaltar a consciência das pessoas ao meu redor sobre o tema do lixo e seu correto descarte.
Fazer o bem, é cuidar da natureza. Faça o bem!!!!
No meu site, www.cesarcinato.com.br, você encontra todas as fotos que fizeram parte do projeto, além das imagens que foram para a exposição.
Um abraço.
César Cinato
Qdo tenho algo para separar, faço em casa e depois descarto.
Que trabalho importante, tão necessário!!! Cada ação para conscientizar a população sobre a importância do lixo merece aplausos!!! Nosso bairro, cidade, país precisa tanto de educação!!!
Obrigado pelo apoio, Esmeralda!