Vidro: história e reciclagem
1Apesar de haver um grande espaço para o crescimento da reciclagem do vidro no Brasil, são poucos os programas voltados a este material tão presente no dia-a-dia. Entenda mais sobre o vidro, sua história e os problemas relacionados à sua reciclagem.
História do vidro
Um das versões para seu descobrimento data de 4000 A.C. quando mercadores fenícios ao acenderem uma fogueira na praia, sobre a qual apoiavam blocos de natrão (pedras de carbonato de sódio natural usado para tingir lã) viram que estes elementos associados originavam um líquido transparente e moldável , nascia ai o vitrum (nome proveniente de uma planta cujas folhas produziam um pigmento azul usado na mistura para dar beleza a jarros confeccionados na época). Sua transparência se deu com o aprimoramento de técnicas de fabricação por volta do século I D.C.. Desde então tem sido essencial ao nosso dia a dia, utilizado em diversas aplicações.
Um material límpido e inodoro que traz, beleza, transparência e preserva o sabor e o frescor original dos alimentos. Um vinho, uma cerveja, vodkas e uísques, assim como os refrigerantes, ganham mais sabor nesta embalagem. Na construção civil traz leveza a arquitetura e nos permite ver o mundo nas alturas diante de toda sua transparência. É fácil de limpar e reutilizar.
Reciclagem do vidro
O vidro é ideal para a reciclagem e pode, dependendo das circunstâncias, ser infinitamente reciclado, além de benefícios na redução do consumo de energia, reduz o volume de lixo enviado aos aterros sanitários. É basicamente produzido através da fusão de areia, calcário, barrilha, alumina, corantes e descorantes. Para fabricação de 1.000 kg de vidro são necessários 1.300 kg de areia, matéria prima que apesar de abundante na natureza sempre deixa algum tipo de impacto ambiental na sua extração. Apesar de ser 100% reciclável, seu pleno aproveitamento passa por um gargalo e tropeça na chamada Logística Reversa, ou seja, na logística que traz de volta ao ciclo produtivo os resíduos recicláveis. No caso do vidro, esta logística é um pouco mais complexa do que a de outros materiais como PET, alumínio e sucata que são mais fáceis de coletar, prensar e comercializar.
Sobre os índices de reciclagem, o vidro representa hoje entre 30% e 40%, valores inferiores aos de outras embalagens como PET (58%) e a campeã lata de alumínio (98%) – Segundo reportagem da Folha de S.Paulo de 23\06\2016.
*Para cada tonelada de caco temos: redução de 480 kWh – redução de 0,53 ton CO2 -, redução de 1,2 ton de matéria-prima. (segundo ABIVIDRO).
Caminho do vidro pós consumo
O caminho do vidro até o fabricante passa por uma extensa cadeia repleta de atores como catadores informais, cooperativas de catadores que recebem o material de coleta seletiva, sucateiros e a própria indústria (caco industrial). A reciclagem do vidro ocorre basicamente em três etapas: coleta, triagem (etapa importante na separação dos diversos tipos de vidro, e eliminação de contaminantes como rótulos e tampas de alumínio, pedras, ferro e outras impurezas prejudiciais a reciclagem) e por último a trituração para facilitar sua carga nos fornos e também otimizar o custo logístico.
Comercialização do vidro reciclado
Outro fator de impacto é o valor deste resíduo. Enquanto uma tonelada de alumínio custa em média R$ 2.500,00 e a de PET R$1.000,00, a tonelada do vidro fica em R$ 70,00 (segundo o CEMPRE em 12\07\2016), fazendo com que este resíduo não seja tão atrativo para coleta e comercialização.
O pólo vidreiro está concentrado em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre onde encontramos os grandes fabricantes. Em São Paulo encontramos 03 beneficiadores (empresas que compram cacos em nível nacional, beneficiam e revendem para a indústria do vidro), sendo que uma delas possui uma grande e sofisticada capacidade tecnológica, proveniente da Europa, onde além do beneficiamento (limpeza) também se dá a seleção óptica dos cacos por cores.
Estas beneficiadoras possuem frota própria de caminhões, o que é essencial ao negócio. Mas mesmo assim a logística reversa de longas distâncias torna-se inviável, ficando em muitos casos acima do valor de venda do próprio resíduo.
É justo dizer que 1 kg de vidro (de embalagem pós-consumo) se faz com três garrafas padrão 1L, enquanto que para 01 kg de alumínio são necessárias em média 67 latas, e para o PET 26 garrafas de 1L. Desta forma, comercialmente, para se obter 10 tons de caco, necessita-se em média de 30 mil garrafas (1L), chegando a um resultado de venda de R$ 700,00. Deste resultado bruto há de se deduzir os custos com logística de coleta, mão de obra, impostos, e às vezes logística de entrega. Portanto, o segredo da reciclagem do vidro é quantidade, qualidade (caco limpo), giro e custo logístico.
Coleta seletiva pública
Quando o vidro não se perde nos caminhões compactadores se perde no processo. Em São Paulo, por exemplo, as Mega Centrais Mecanizadas operadas pelas concessionárias responsáveis pela coleta seletiva, devido ao tipo de maquinário comprado na concepção dos projetos não conseguem separar este resíduo, acabando por perder toneladas de material no processo, que transformado em pó de vidro e rejeito é descartado em aterro onde poderá ficar infinitamente pois não se sabe qual a sua permanência no meio ambiente sem se degradar. Estima-se mais de 4000 anos.
Concluindo
Considerando o lado positivo, há um grande espaço para o crescimento da reciclagem do vidro no Brasil quando comparado a Europa que atinge níveis de 74% ao ano. Porém, são poucos os programas voltados a este material tão presente no dia-a-dia. Neste âmbito podemos destacar como um exemplo o Programa “Glass is Good” (Vidro é Bom), focado em embalagens pós consumo, de iniciativa e apoio de grandes empresas do setor de bebidas , que atua na educação ambiental, logística reversa, capacitação de cooperativas de reciclagem e já reciclou mais de 10.000 toneladas de cacos (mais de 20 milhões de garrafas) nos últimos 5 anos.
Enquanto não houver um esforço maior para a separação adequada, o equilíbrio no custeio logístico, sem falar na bitributação dos recicláveis em um país continental como o Brasil, o crescimento da reciclagem de vidro continuará comprometido.
Artigo de Valeria Quaglio – MBA em Gestão de Negócios pelo IPT, pós graduada em RI pela FAAP. Especialização em Corporate Affair , Sustentabilidade e Responsabilidade Social pela FGV. Executiva da área internacional, construiu sua carreira na área de comércio exterior em trading de minérios, produção de metais e materiais avançados com posterior coleta e reciclagem industrial. Hoje desenvolve e coordena projetos sustentáveis com foco em reciclagem, conscientização ambiental e responsabilidade social.
A 341 Caminho Suave nasceu da vontade de pessoas de bem de fazer o bem.
Objetivo: desenvolver e implantar projetos com inovação e responsabilidade de acordo com tripé de equilíbrio sustentável básico, englobando o social, ambiental e financeiro.
Nesses casos da reciclagem a mobilização da sociedade e necessária mais a atitude do setor governamental e de extrema importância para uma mobilização geral e eficiente , pois a vontade de pessoas de fazer a diferença se perdem todos os dias !