China, depósito de lixo eletrônico
0Ver a mesma cena todos os dias nos torna insensíveis. Chega uma hora que falar de catadores trabalhando no lixão não causa nenhuma emoção, mesmo sabendo que esse tipo de trabalho é degradante, humilhante e ofensivo. Uma lei tentou acabar com isso, e talvez ela tenha sido criada apenas para expiar a culpa, porque na prática, pouco aconteceu em defesa dos catadores e para acabar com os lixões.
Vamos mostrar então imagens da cidade chinesa de Guiyu, que recebe lixo eletrônico do mundo todo. Parece um bom negócio que emprega dezenas de milhares de pessoas, mas o custo ambiental e de saúde humana é extremamente alto.
A contaminação por metais pesados tornou tóxicos o ar e a água e as crianças têm altos níveis de chumbo no sangue, segundo estudo feito por cientistas da Universidade Médica de Shantou.
Um dos problemas é a concentração desse tipo de resíduo. Não só o lixo eletrônico vem do mundo todo, mas agora, a China se tornou uma potência consumidora por si só.
Segundo a ONU, a China gera seis milhões de toneladas de rejeitos eletrônicos por ano; os Estados Unidos, 7,2 milhões, e o mundo inteiro, 48,8 milhões.
Em Guiyu, a capital da reciclagem tecnológica da China, esta indústria emprega pelo menos 80 mil moradores desta cidade de 130 mil habitantes.
A cada ano, a cidade processa mais de 1,6 milhão de toneladas de lixo tecnológico, gerando ganhos no valor de US$ 600 milhões ao ano, o que atrai migrantes de várias partes da China.
Mas esta atividade é muito irregular e tem um alto custo ambiental. Os resíduos resultantes são lançados em um rio próximo e o ar fica saturado de fumaça da combustão de plásticos, circuitos e produtos químicos.
Lai Yun, um pesquisador do grupo ambientalista Greenpeace, que visitou Guiyu em várias oportunidades, diz que o governo chinês reforçou a legislação para proteger o meio ambiente, mas as normas vigentes não são aplicadas com rigor.
“Do ponto de vista do governo, coletar os resíduos eletrônicos e processá-los é importante para a economia local”, declarou Lai.
“Segundo estudos, 80% dos lares participam da atividade. Por fim, se esta indústria não se desenvolver, estes habitantes precisarão de outro tipo de trabalho”, acrescentou.
Apesar de ser do outro lado do mundo, a situação é praticamente a mesma. Mas talvez, quem sabe, ver crianças de olhos puxados no meio do lixo traga algum tipo de incômodo para quem não liga mais de ver crianças negras nos lixões brasileiros.
Veja também: Os efeitos do lixo eletrônico na saúde
Com informações do G1 e fotos de Wang Jiuliang